Paulo Ramunni: a minha paixão nasce da simplicidade das coisas

Estivemos à conversa com o grande vencedor da 5.ª edição do VIArtes – o concurso de arte pública que o ViaCatarina promove – Paulo Ramunni.

Designer e escultor, Paulo Ramunni tem peças expostas pelo mundo. O MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Iorque é um dos conceituados museus por onde já passaram as suas obras.

Mas para ver os seus melhores trabalhos, não precisa ir tão longe. Paulo Ramunni foi o vencedor do concurso de arte pública VIArtes e, em breve, o seu projeto “O Caminho Menos Percorrido” irá vestir a fachada do nosso Centro. É já em abril e nós estamos ansiosos.

Para o conhecer um pouco melhor, leia aqui a entrevista que fizemos ao artista.

Começou como designer de moda e, mais tarde, arriscou no design de equipamentos e exteriores. Ou seja, a palavra design é indissociável da sua vida. Quando se apaixonou por esta arte?

Não sei exatamente em que parte da minha vida isso se manifestou de forma mais evidente. Mas o design não é a minha paixão (eu apaixono-me por outro tipo de coisas), mas a forma como me expresso através do design, nasce da paixão que eu tenho por tantas outras coisas que são, normalmente, coisas muito simples. Simples, mas com grande design, de si próprias. Como tudo o que, para mim, é bom na vida. São, precisamente, essas coisas que me atraem…É por esse “design” que eu sou apaixonado.

Quais foram os primeiros passos nesta aventura?

Desde que me lembro, sempre rabisquei coisas, sempre desenhei, sempre esculpi, sempre escrevi. Mas, antes, para que isso acontecesse, sempre contemplei, sempre olhei, ouvi, toquei, saboreei… e continuo a fazê-lo. A seguir é que vem a outra fase (“first things first”), a de querer deitar para fora, expressar, acho que até a melhor palavra para o definir é: derramar. Encho-me do que me impressiona e, depois, começa a transbordar, a extravasar, das formas mais variadas e através dos meios mais diversos. Por onde fui passando, sempre deixei coisas feitas por mim e as pessoas, entretanto, foram-me pedindo mais coisas.

Em termos de formação profissional, os primeiros passos foram dados numa escola de Design de Moda, o CITEM, em 1988, no Porto. Depois disso, nunca mais parei de me instruir com novos meios e formas de expressão, até agora.

Se pudesse descrever um pouco do seu dia-a-dia, o que diria?

Todos os meus dias de trabalho são diferentes: não há rotinas, só as horas para começar e para parar. Há dias em que passo mais tempo na oficina, entre materiais, máquinas e produção. Nos outros dias passo mais a desenhar, a escrever, a pensar… Há também dias em que passo mais tempo em frente ao computador, a fazer desenho técnico (esses são os  dias mais chatos) ou a visitar fornecedores de materiais, falar com clientes, fazer feiras internacionais, ver obras…

Os dias de trabalho dos quais gosto mais, são aqueles em que só preciso de sair de casa, andar cerca de 20 metros e entrar na minha oficina (que se encontra dentro da minha propriedade), e nesses dias poder voltar a casa as vezes que quiser, para almoçar, lanchar, ou apenas sentar-me no exterior, no meio das nossas árvores e rodeado pelos meus animais, a apanhar sol, a não fazer nada… (que é uma coisa que também gosto muito de fazer).

E a inspiração? Surge daí?

Vou buscar inspiração a tudo o que me rodeia e a tudo o que não me rodeia, desde as coisas que mexem mais às coisas mais paradas, às que estão fora de mim e às que estão cá por dentro. Mas todo esse movimento, é depois tratado num “espaço muito quieto”, para depois voltar a sair, de novo… Pelo menos, parece-me ser assim que acontece.

E o futuro?

A verdade é que não tenho grandes projetos/sonhos que queira concretizar no futuro… Vivo cada vez mais a concretizar pequenos projetos no meu dia-a-dia, que, por vezes, podem revelar-se grandes e complexos. Mas já não planeio muito para a frente… é muito cansativo e bastante frustrante. Prefiro concentrar-me nas coisas presentes, preenche-me mais e dá-me mais satisfação do que estar a pensar muito no futuro e acaba por ser mais produtivo.

Outra pequena nota: não confundir projetar com sonhar. Sonhar é “outro campeonato”. Sempre me pareceu que as pessoas que passam a vida (a pensar) no futuro, ficam com pouco tempo para se dedicarem às coisas presentes, para estarem aqui, e que, talvez por isso, habitualmente nunca chegam a concretizar-se.

Eu prefiro isto aqui, agora… Sou mais feliz assim.